"Foste outrora passagem dos tropeiros
Tua sombra servia-lhes de abrigo
És a imagem da árvore frondosa
Que acolhe a todos como amigos"
(Hino de Juazeirinho-PB)
TRÂNSITO INTENSO e muito movimento quase na hora do rush. O recapeamento de parte da pista e uma duplicação nas proximidades da Praça do Meio do Mundo eram só alguns dos obstáculos que tinha que transpor na saída de Campina Grande para o sertão. Era exatamente cinco e meia da tarde e o que me encantou foi um ocaso que tomava conta da paisagem, tons alaranjados circundavam um já pálido amarelo solar. Lindo e comovente fim de dia. No rádio, a Ave Maria. Meu destino era o querido município de Juazeirinho, nas fronteiras do Seridó com o Cariri, na verdade tudo ali pertence aos Cariris históricos, mencionados até em seu hino municipal.
Fui convidado a participar de uma sessão solene da Câmara Municipal de Juazeirinho (Casa José Cosme de Oliveira) em comemoração ao aniversário de 67 anos de sua emancipação política que ocorreu no confortável auditório Odilo Batista de Lima da Escola Municipal Severino Marinheiro. O motivo foi a concessão do título de cidadão Juazeirinhense “em reconhecimento pelos bons e relevantes atos idealizados pelo mesmo em favor do município de Juazeirinho”, propositura do Vereador Josivânio de Souza dos Santos, subscrito pelo Vereador Presidente da Casa Normelio C. Trajano.
Tem uns vinte anos que meus caminhos pelo interior (ao percorrer a BR 230) me conduziram a transpor o coração de Juazeirinho. A imponência da Igreja Matriz de São José, o casario e o ambiente entre serras sempre despertou minha curiosidade me levando a buscar informações diversas, até porque em um determinado momento de sua história, juntamente com a vizinha Soledade-PB, integrou um só município que foi chamado de Ibiapinópolis (cidade de Ibiapina). Pe. Ibiapina foi um sacerdote benfeitor do interior do Nordeste no século dezenove e que foi responsável pela criação do cemitério onde Soledade se desenvolveu ao redor em uma das fatídicas epidemias de Cólera (Cholera Mórbus). Esse detalhe só favoreceu a curiosidade, até que visitei o Memorial Manoel Vital, cataloguei inscrições rupestres nas margens do Riacho Chorão do Junco, e na volta na imponente Pedra Bonita; conheci a Serra dos Borges e também duas animadas festas, a do padroeiro e a comemoração junina “São Juá”. Tudo isso serviu como inspiração para crônicas que escrevi.
Memorial Manoel Vital em Juazeirinho-PB - TB
Daí veio algumas maravilhosas amizades e uma delas transformou minha relação com a cidade, o amigo também historiador Agenor Batista de Lima, sua esposa Corrinha de Agenor, seus filhos, irmãos e gozei de uma fraterna amizade com Bola Sete, seu pai. No Sítio Colosso, nas bordas da cidade, ele fez morada e lá eu sempre passava, mas com vontade de ficar e – nos dizeres do escritor e político paraibano José Américo de Almeida – como “no caminho da volta ninguém se perde”, voltei diversas vezes e nessa noite festiva para agradecer.
A sessão começou com a fala do amigo Agenor, convidado para comentar as nuances que ensejaram a emancipação política da cidade, dando uma verdadeira aula de história local. Em seguida, houve uma série de homenagens, momento em que fui agraciado com o título de cidadão Juazeirinhense e dividi o momento com algumas personalidades da cidade, gente do povo que recebeu votos de aplauso pelo conjunto da obra. No fim do evento festivo, a dupla de músicos Genildo e Ginaldo foi homenageada e emocionou os presentes contando um pouco de sua história, de meninos sonhadores que do trabalho na lavoura ganhou o Brasil com sua voz. Eles encantaram a plateia cantando sucessos em capela (veja no link: https://www.instagram.com/reel/C-AcHwrua4b/?utm_source=ig_web_copy_link)
Foi uma noite muito especial para cidade e seus quase dezenove mil habitantes, lugar que fui adotado como filho, a “árvore frondosa” que me acolhe como um amigo. Despeço-me dos amigos e retorno à Campina. O cansaço deu espaço à satisfação de receber tamanha honraria. E com imensa alegria digo: Juazeirinho, meu muito obrigado!
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 03 de agosto de 2024.
A cidade teve boa percepção para acolher quem tem cidadania para compartilhar.