VÁRIAS SÃO AS PERSONALIDADES que entraram para a história de Campina Grande: sujeitos folclóricos, ativistas culturais, populares, políticos e pessoas influentes na indústria, no comércio, nas artes, na vida boêmia... Uma delas foi Severino de Sousa Brasil, conhecido em toda a cidade por “Seu Brasil”, nascido no distrito de Lagoa de Pombal, na Parahyba, em 19 de julho de 1913. Seu Brasil fundou mais de uma dezena de sindicatos na cidade e teve uma atuação marcante no Ministério do Trabalho. Não houve sequer uma Carteira de Trabalho que não tivesse sido assinada por “Seu Brasil” entre os anos de 1940 e 1981. Com sua personalidade marcante, ensejou em Campina a mediação entre empregador e empregado, se tornando uma figura conhecidíssima em todas as esferas da cidade.
Seu Brasil era um típico homem caseiro, gostava de curtir a família e de receber os amigos em sua casa, no bairro do Alto Branco, na Rua Napoleão Laureano, nº 499. Ali foi por muitas vezes o ponto de encontro dos jovens do bairro. Lá, todos podiam ler os jornais e os livros que ele comprava com frequência, dentre vários: Olhai os Lírios do Campo, Solo de Clarineta, Noite, Clarissa, de Erico Verissimo; uma coleção de dezessete volumes de romances de Joseph Cronin; Geografia da Fome de Josué de Castro; Formação Econômica do Brasil, do Caio Prado Júnior; Bandeirantes e Pioneiros, de Vianna Moog; D. Quixote, de Miguel de Cervantes; toda uma coleção de Prêmio Nobel da Literatura; livros de Jorge Amado; Monteiro Lobato; Graciliano Ramos; Dicionário Caldas Aulete, Encicopledia Barsa, etc. Em sua casa, livros eram aos montes e por todos os lados. Lia-os, ensinava, recomendava a leitura, educava os filhos e recebia os amigos em uma verdadeira biblioteca à disposição de todos, o escritor Bráulio Tavares “catucava” suas estantes.
Seu Brasil, rememorando determinados fatos em entrevista ao jornalista Ronaldo Dinoá no suplemento ‘Tudo’ do saudoso jornal Diário da Borborema, contou a propósito da primeira greve de trabalhadores ocorrida na cidade: “aconteceu a primeira greve, em Campina Grande, em 1951. Comandada pelo Sindicato da Indústria de Calçados e o objetivo era melhoria de salários. A greve durou algumas semanas e os grevistas conseguiram uma expressiva vitória”. Demonstração da percepção que “Seu Brasil” possuía do universo do trabalho em seus múltiplos aspectos e o envolvimento com o movimento operário da cidade.
No próximo 19 de julho de 2023, se estivesse entre nós, Seu Brasil faria 110 anos. Há dez anos, comemorando o seu centenário de nascimento, a família resolveu fazer uma homenagem em forma de livro. Nasceu aí o projeto ‘Um cidadão chamado Brasil: memórias de seu centenário’, que tive a honra de desenvolver em conjunto com Severino Brasil – seu filho – e o amigo memorialista e poeta José Edmilson Rodrigues.
A obra foi confeccionada na Gráfica e Editora Agenda e conta um pouco da história familiar de “Seu Brasil”, mostrando a sua vivência e atuação na sociedade campina-grandense ao longo de 86 páginas. Ilustrações e charges foram produzidas pelo artista e diagramador Galdino Otten, fotografias do acervo familiar fazem parte e também consta no trabalho depoimentos de amigos seus como: Raimundo Rodrigues, Leidson Farias, Manoel Barbosa, Mário Araújo, Paulo Guimarães, Marco William Arruda, Bráulio Tavares, Jovany Luis de Medeiros e Clotilde Tavares.
Realizar este trabalho nos trouxe muita satisfação, além de uma bela homenagem a este cidadão parahybano, pudemos elencar algumas minúcias desta figura querida por todos por onde passou, de forma que não há como não esboçar felicidade com tocante e grande homenagem diante de uma história de vida de uma dimensão extraordinária.
Agradeço ao renomado advogado Severino Brasil a oportunidade de pesquisar e falar um pouco sobre seu Pai, que lá de cima, com toda certeza, ficou lisonjeado com o reconhecimento, os escritos em grande homenagem.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 08 de abril de 2023.
Parabéns!
Como foi dito no início da crônicas, são muitos os vultos " CAMPINENSES" que há muito, fizeram história e se destacaram nacionalmente, pois campina é uma cidade inovadora!
Mas, infelizmente, como tudo passa, o tempo vai passando, e o esquecimento é quem predomina na nossa história que ninguém mais sabe contar.
Obrigado pela crônicas!
Muito bom. Me sentiria honrado em encontrar esse cidadão em minha árvore genealógica...