A Parahyba é mesmo cheia de surpresas e encantos. Na caatinga agrestada do alto da Borborema, predominante no cume de uma de suas serras, há uma torre pontiaguda e de pedra. Está localizada entre os municípios de Massaranduba e Riachão do Bacamarte e pelo seu total e intrigante destaque na paisagem, foi escolhida como passagem do marco divisor desses dois municípios. Trata-se de um matacão (bloco de pedra sobre um lajedo) de natureza granítica com o topo bem delgado ostentando um cruzeirinho muito antigo. Partindo de João Pessoa com destino à Campina Grande, através da BR 230, observa-se no quilômetro 127, do lado direito, uma grande pedra afilada, com aspecto de torre. Sua exuberância é enorme e todos que por ali passam são tentados a observar e admirar o monumento, até os menos sensíveis. Sua característica deu nome à localidade: Fazenda Torre, de propriedade do político Perón Japiassú, onde se encontra o Parque de vaquejada Liberal.
Este matacão repousa em um grande lajedo aflorado bem no alto do serrote, é um gigante de aproximadamente onze metros de altura e oito de largura. Ele pode ser admirado em um raio de muitos quilômetros, e quem subir até lá poderá avistar de um verdadeiro mirante toda a paisagística serrana, rodeado de uma interessante vegetação de cactos e bromélias.
Não bastasse o monumento lítico ser por si só esplêndido, em sua face noroeste há um verdadeiro painel de inscrições rupestres antiquíssimas, pré-históricas, ocupando uma porção considerável da superfície alisada do bloco rochoso. Aqueles testemunhos enigmáticos são provas incontestes de que essa região do planalto é povoada há milhares de anos e os povos que deixaram as marcas de sua cultura disseminaram esses símbolos por vasto território, já que é sabido pelas pesquisas arqueológicas empreendidas no Estado a existência de centenas de pinturas ocultas nas matas, ornando rochas.
Na Pedra da Torre temos inscrições que foram gravadas a fortes golpes com ferramenta feita de outra rocha com maior grau de dureza; não são tão profundas como aquelas que existem na Pedra do Ingá, são mais rasas, picotadas, alisadas, sobre a parede pétrea previamente untada com uma tinta vermelha, provavelmente com a intenção de obter um maior destaque para os testemunhos gravados que ficam esbranquiçados, como uma base, uma tela. Ao longo do matacão também se encontra algumas figuras e manchas pintadas em vermelho, feitas com uma tinta obtida com o corante rubro resultante da fragmentação do óxido de ferro, umas pedrinhas avermelhadas, comuns nestes terrenos, ricas em ferro. Como fixador do corante, usavam alguma seiva vegetal ou mesmo gordura animal.
O posicionamento geográfico do serrote em meio aos cordões de serra é estratégico, pois do alto vê-se toda a região num raio de pelo menos vinte quilômetros. Penso que no tempo dos indígenas, seria possivelmente um importante lugar para observação, seja para planejamento e execução de caçadas ou mesmo para a visualização de outras tribos que por ventura perlustrava a região, levando-os a se defender ou atacar, caso fosse necessário. Essa pode ser a razão deles terem marcado aquele lugar.
As inscrições gravadas possuem formas geométricas bastante complexas, predominando as linhas sinuosas e os círculos, além de alguns pontos que a arqueologia denomina de capsular. As pinturas, além de dar vivacidade às gravuras, apresentam diversos símbolos geométricos e muitas manchas, não sendo de fácil identificação ou discernimento. Assim, a sua decifração não é possível pois o código cultural que traduz aquelas marcas se perdeu na bruma dos tempos e, como sabemos, o processo colonizador sucumbiu em quase a totalidade os grupos indígenas, aniquilando a chance de entendermos plenamente esse tesouro ancestral hoje coberto pela aura enigmática do mistério.
Monumento natural e histórico, a Pedra da Torre é mais um cantinho que todo mundo deveria conhecer, atrativo turístico do Agreste paraibano que deve ser explorado pelos amantes da arqueologia, da aventura e da natureza. Vale a pena conferir.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 22 de maio de 2021.
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