ESTIMADOS LEITORES E LEITORAS, quem acompanha essa coluna semanal acredito que já percebeu que eu tenho um herói. Mas não é daqueles que enchem as páginas dos gibis da Marvel. Dos superpoderes que ele possui, o maior e o mais importante deles é a condição de existir, de estar aqui compartilhando esse mundão com a família e amigos e, “na parte que me toca”, estar sempre ali ou em qualquer lugar me dando toda a atenção do mundo, nem que seja uma palavra de conforto, que com toda sua lhaneza está sempre a ofertar.
Esse herói tem nome e sobrenome: Paulo Roberto de Oliveira, que Deus me abençoou em me dar como Pai. Nossas vidas desde o meu nascimento estão fortemente entrelaçadas. Não somos simplesmente pai e filho, ele não é simplesmente uma figura paterna, mas se tornou um grande amigo, minha melhor amizade e muito mais. Vivências antigas, marcas de muitas das primeiras experiências foram com ele, de modo que não sabemos propriamente explicar os porquês de tudo isso, só sentimos. Minha irmã, mais nova uns três anos, faz inúmeras brincadeiras a respeito. Obviamente eivada de ciúmes, mas a relação dela com minha amada mãe é também deveras intensa, não sei de que monta, mas é.
Papai nasceu no dia 23 de abril de 1959, dia consagrado a São Jorge, santo tão importante para o catolicismo apostólico romano. A data caiu na última terça-feira e, para comemorar, ele reuniu parte da família que mora em Campina Grande para um congraçamento em um reservado na pizzaria Sapore D’Itália, na entrada do bairro de Santo Antônio. Lá estavam: minhas avós (não só a mãe dele como a sua sogra – com quem compartilha o mesmo dia de aniversário), Mamãe, irmãos, sobrinhos além de sua primeira neta, Maria Júlia (Majú), filha de minha irmã que prestes a completar um ano de idade, oferta sua graciosidade a todos, sempre dançando (se balançando) quando ouve qualquer música, principalmente o forró do Rei do Baião Luiz Gonzaga. Sabe que eu acho que seu nome até deveria ser Carolina e com ‘k’, já que tanto gosta da canção ‘O cheiro da Carolina’ cantada por Gonzagão desde a década de 1950? Pois é.
Em determinado momento da noite, Papai fez um discurso emocionante em que, além de agradecer a Deus, narrou retrospectiva do seu sentimento de amor que começou com sua mãe, Dona Socorro (Poté) com quem ele conheceu o sentimento primevo de amor em sua vida. Emocionado, disse que certa vez vindo da escola, ouviu no rádio em uma certa casa a canção de Vítor Mateus Teixeira, o famoso Teixeirinha, chamada ‘Coração de luto’ que em sua primeira estrofe traz: “O maior golpe do mundo/ Que eu tive na minha vida /Foi quando com nove anos/ Perdi minha mãe querida/ Morreu queimada no fogo/ Morte triste, dolorida/ Que fez a minha mãezinha/ Dar o adeus da despedida/ Vinha vindo da escola/ Quando de longe avistei/ O rancho que nós morava/ Cheio de gente encontrei/ Antes que alguém me dissesse/ Eu logo imaginei/ Que o caso era de morte/ Da mãezinha que eu amei”. Aquela música o fazia chorar “como um condenado” (como disse), despertando uma dor incomensurável. Pior que naquela época, Teixeirinha era bem tocado nas rádios e aquele fantasma o acompanhava.
Em seguida falou dos irmãos, todos mais novos, que por muito tempo foram seus filhos. Depois o encontro com minha Mãe, o amor de sua vida, que proporcionou outros dois amores: seus filhos. “Pedi a Deus que ele só me levasse quando meu filho mais velho completasse os dezoito anos”. Depois, com o nascimento de minha irmã, fez o mesmo pedido. “Agora está aqui o meu mais novo amor, minha neta... Quero vê-la pelo menos aos dezoito e enquanto Nosso Senhor for permitindo, vou indo na prorrogação”.
Como é incrível esse homem. Comerciante na “praça” de Campina Grande, jamais soube ou ouvi uma palavra sequer que abonasse sua conduta ilibada, hombridade e bom humor. Suas amizades povoam os mais diversos perfis na cidade e ele sempre é visto e tratado com o respeito. “O pai de Thomas é gente boa demais!”, ouço pelos outros, o que aumenta muito mais a minha responsabilidade de honrar seu legado, sua alegria e tudo de bom que ele é.
Dia desses estava em Santos-SP. No hotel, aperreado com algumas questões, liguei para ele. Ouvir sua terna voz, de uma maciez e levemente rouca, não segurei algumas lágrimas que saltaram de meus olhos quando ouvi aquele: “Alô meu filho, tudo bem? ”. Depois de conversarmos, nem ele sabia o tanto que estava me reconfortando. Agradeci a Deus que há milhares de quilômetros de distância, ele estava ali. Sentido e razão de minha vida. Papai, parabéns pelos seus 65 anos. Te amo e espero que possamos viver muitas histórias juntos. Viva Seu Roberto, vida longa e plena a meu herói!
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 04 de maio de 2024.
Bela homenagem! 👏👏👏👏👏
Meu querido filho, agradeço demais essa homenagem, não tem como não chorar, saiba que, enquanto esse coração velho bater, eu estarei sempre a seu lado, fisicamente ou não, sempre com você e por você! Um beijo!