NOS CONHECEMOS HÁ PELO MENOS duas décadas e fomos apresentados por uma pessoa que jamais queria fazê-lo, pois sabia da potencialidade de cada um e sua índole vil e ambiciosa temia que daquele encontro saísse uma “dupla dinâmica” de bons amigos e disposta a compor projetos. Parecia estar escrito nas estrelas, eu jamais deveria estar passando naquele momento pelo café de Dona Bernadete, no antigo, querido e inesquecível CEDUC (Centro de Educação da UEPB), mas por uma necessidade familiar, precisei sair mais cedo e o encontro se deu pelos vários amigos que estavam presentes.
“Trocamos figurinhas” de imediato, saquei da bolsa alguns retratos antigos de Campina Grande e logo marcamos de nos encontrarmos no dia seguinte. Ele educado, um tanto sério, cordato, homem maduro. Eu, mal tinha completado os dezenove anos e minha gana de conhecimento já era conhecida por alguns professores e colegas de curso. No dia seguinte, ele já me convidou para reativar um projeto antigo que estava dormente em suas gavetas, aceitei de pronto e esse foi o primeiro trabalho que desenvolvemos juntos. Quando notei seu número em meu celular, pus Prof. Edmilson e assim conservo até hoje, relembrando tantas emoções e passagens já vividas. Daquela reunião no Chopp do Alemão nasceram muitas outras, outros tantos projetos, uma série de sonhos que seria preciso pelo menos algumas vidas a mais para realizar tudo o que desejamos.
Z’Édmilson, como o chamo carinhosamente, é filho do colchoeiro, padeiro e negociante Severino Pereira Rodrigues e da Senhora Josefa Pereira Rodrigues, nasceu pelas mãos da parteira Ilda Gouveia (que “pegava” boa parte das crianças do bairro) e viveu intensamente na antiga Rodagem, ponto final de Campina Grande, onde hoje é a Rua Arrojado Lisboa, próximo da Volta de Zé leal, Ali seu pai foi sócio de padaria, colchoaria com feitio de colchão de palha, algodão, de molas e consertos, e em suas reminiscências narra com detalhes histórias de cabarés, principalmente daquele setor, de parteiras, dos matutos que vinham do interior se deslumbrando com o que tinha na cidade, das pousadas e de uma bateria de banheiros de “Seu Celestino” do lado de sua Bodega, na mesma Rua, do intenso comércio e da vida citadina naquela porção oeste da cidade.
A primeira vez que fui à sua casa, segui para o escritório e logo ele entra em seguida e diz: “Tu foste professor de minha filha mais nova! Já pensou? Ela te reconheceu”, vejam só que coincidência, lembrança de quando fui professor do cursinho PreVest da UEPB. Nas estantes e armários conheci seu acervo, muitos de seus escritos, poesias inéditas já editadas para publicação com uma bela fortuna crítica de escritores do sul do país. Para mim, inicialmente José Edmilson Rodrigues foi uma incógnita, questionava “com os meus botões”, como diria Montesquieu, ele parecia ter dado um tempo ao tempo. Uma vida literária ativa até a década de 1990, mas que havia um hiato. Nunca soube ao certo o que realmente ocorreu, o que via era um gigante adormecido. Até eu entender que nunca foi afeito aos holofotes, tímido, sempre agiu nos bastidores. De nossa amizade cada vez mais segura, o incentivava e nos últimos anos vários foram os livros publicados. Aprendo muito com sua experiência, com sua trajetória, conduta ilibada reconhecida em toda a nossa cidade. Não sabemos se somos amigos, irmãos, pai e filho, filho e pai, conselheiros! Tudo o que uma boa amizade pode dispor. É como diz o nosso confrade da Academia de Letras de Campina Grande Jessier Quirino: “nós penteamos o cabelo para o mesmo lado” (mesmo que esses fios sejam raros em minha cabeça hoje, mas tiveram seus tempos de ventura).
Hoje resolvi escrever sobre ele. Tentei algumas vezes tempos atrás e a emoção não me deixou ir além. Hoje não resisti porque em nossa última ligação, ele repetiu – mais uma vez – “caramba, esqueci”, daí respondi: “Só não esqueça de mim poetinha!” e essa frase virou o mote. O velho e querido amigo em comum Luiz Augusto Paiva da Mata costuma dizer: “Cuidado para o alemão não te pegar”, se referindo ao Alzheimer. Não é o caso, mas nesse último ano, o poetinha me liga e algumas das frases são: “Rapaz, queria te dizer uma coisa e não lembro...”; “Rapaz, e não é que esqueci”; e a pior: “Daqui a um minutinho te ligo”, e esse minutinho pode ser um dia inteiro.
Ah Z’Édmilson, que esse mundo tivesse mais da sua poesia, da sua lhaneza, do fino trato e da resenha que só você sabe fazer. Aqui deixo um beijo na testa e digo-lhe: Só não esqueça de mim viu poetinha? Que Deus o abençoe e dê vida longa e plena, você merece todas as homenagens. Abraço amigo velho.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 13 de janeiro de 2023.
Uma ode a uma boa amizade é coisa sobre a qual dissertarei apenas com as mãos:👏👏👏👏👏
Maravilha, Thomas... Emocionante!1