Mais uma vez adentrei ao soberbo casarão do areiense-mor José Américo de Almeida, naquele número 3336 da orla de Cabo Branco em nossa capital. Ali mesmo onde os primeiros raios de sol das Américas animam-nos para mais um dia. No passado, enquanto residência, não olvidar as personagens históricas de projeção nacional que ali visitaram o homem de Areia. Hoje, fundação, conta com magnífico acervo (muito bem tratado, merece o registro!) e recebe desde estudantes em tenra idade a intelectuais que convivem ali na pesquisa ou nos movimentados eventos, quer seja no cineclube ou nas palestras e lançamentos de livros, como foi na última quarta-feira.
Era noite e a cada passo que nos aproximavam do busto de Zé Américo, ao som do quebrar das ondas, sentíamos a presença d’A Bagaceira impressos naquele olhar fixo no horizonte e também nos contornos arquitetônicos da construção da década de 1950. – Boa noite Zé, vamos entrar. Estava com os amigos José Edmilson e Josemir Camilo (Presidente da Academia de Letras de Campina Grande) e o motivo foi abraçar o casal Zélia Almeida e Carlos Azevedo, prestigiando o lançamento de ‘A dor da pobreza, uma dor de mundo’ (Ideia, 254p), mais uma obra de Zélia sobre o Brejo parahybano que rega suas veias e sentimentos.
Vê-los é sempre momento de matar a saudade, desço o planalto da Borborema com a ansiedade de um animal que se projeta da ribanceira para beber o rio, são muitos anos de amizade, de bem querer e de inspiração. Dois escritores de rara grandeza, devo ter praticamente todos os livros deles. A propósito, em uma visita ao apartamento que residem em Tambaú, há uns 10 anos, descobri um outro Carlos, não só antropólogo, mas poeta, e Zélia descortinou alguns livros (que Carlos fazia questão em esconder), raridades como ‘Tríade’ prefaciado por Jorge Amado. A essa descoberta arqueológica devo muito a Zélia.
Durante o lançamento de ‘Escravidão’ do Laurentino Gomes lá no IHGP, Zélia me contou dessa sua obra e do quão dolorosa foi fazê-la. Uma pesquisa doída. Fiquei bem curioso. Folheando o livro se percebe o quanto a abordagem econômica é sensivelmente tocada pela antropologia, numa leitura crítica sobre os efeitos econômicos de maneira demasiadamente humana.
Entrando no saguão que dá acesso ao auditório, Carlos recebia um a um os convidados enquanto delicadamente o grupo musical “Choramigo” tocava melodiosos choros, entrei ouvindo ‘Naquela mesa’, o cavaquinho escorava-se num violão de sete cordas e as platinelas do pandeiro, discretamente tocado, pareciam uma distante salva de palmas, antecipando a merecida saudação à autora. Muitos admiravam. Saudei diversos amigos e corri para ver Zélia, que recebia os convidados no auditório. Estava radiante! O brilho inconfundível de seus olhos confirmava a emoção em receber tantos amigos e amigas, realmente uma noite muito prestigiada. A data escolhida: 20 de dezembro faz referência ao aniversário de morte do grande paraibano, o economista Celso Furtado que pelas mãos de Zélia, enquanto presidia o Conselho Regional de Economia, se tornou patrono do maior prêmio da entidade. Rosa Freire, esposa de Celso Furtado esteve presente e foi premiada.
Foi uma noite de encontros e reencontros; de abraços, afagos, de ternura, de carinho e de muita amizade. Zélia, que já escreveu sobre riqueza e bem-estar, completa a visão econômica e social falando da dor da pobreza de uma das regiões mais importantes de nosso estado, uma dor de mundo. É preciso conferir.
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