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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Mãos que erguem a cidade


Procissão que a antecede a Padroeira em Esperança em 1951 - Rau Ferreira

No sítio a vida passava devagar. A família era grande, dava um certo trabalho para manter aquelas bocas, mas para tudo se dava um jeito. Dois dos filhos mais velhos estavam sempre indo a feira vender banana e laranja cravo, frutas que abundavam naqueles vales brejeiros. O pouco do feijão da roça não dava nem tempo de secar direito, ia direto para a panela. Miguel, o patriarca, ia numa casa de farinha na estrada de Puxinanã buscar uma saca que durava alguns meses, a mantinha em um jirau na cozinha. Vida de rusticidade e dificuldade. Corrinha era sua filha predileta, tinha 12 irmãos; não era a mais velha nem a mais nova, mas sua mãe a via como a mais sabida. Ela quem resolvia as coisas em Esperança ou se preciso fosse, ia a Campina Grande.


Certa feita, na festa de Nossa Senhora do Bom Conselho, padroeira do município, após assistir à missa com sua mãe e seus irmãos, Corrinha deu uma espiada na festa e se assanhou por um moço que morava no sítio vizinho. Como ele está bonito! Comentou com a irmã mais velha. Tinha visto o que nunca havia enxergado naqueles pés de serra. Pouco tempo de namoro e o casamento foi ligeiro. Após a primeira filha o dito cujo viajou para o Rio de Janeiro afirmando que no fim do ano voltaria rico. Todo mundo estranhou, mas ninguém soube impedir aquele desatino, até porque foi de repente, pegando todos de surpresa. Chegou o fim do ano e ele não voltou. Se passaram mais dois longos anos até que a irmã mais velha, estando na cidade, ouve uma conversa na feira entre uma prima do sujeito e um feirante: “Ivo não vem mais aqui não, que ele não é besta. Como não era casado na igreja, foi embora com a filha do coronel e hoje vive muito bem no sul, ele ia bem ficar morando num casebre naquele sítio passando fome...”. Aos prantos, a irmã retorna com a má notícia que arrasou todo mundo, inclusive o velho Miguel.


Impotente e com profunda vergonha, Miguel resolve se mudar para Campina. Um compadre seu falou dias antes ter ouvido na Rádio Borborema que estavam recrutando trabalhadores para as indústrias que estavam se instalando na cidade. Sabendo das oportunidades, foi com seu filho mais velho conferir. Conseguiu de imediato trabalho no canteiro de obras de uma fábrica de pvc, o filho mais velho foi empregado em uma obra vizinha. À tardinha, era o momento de procurar lugar onde poderiam morar com segurança e trazer a família.


Wallig Nordeste em pleno funcionamento (Década de 1970) - RHCG

No início da década de 1960, nasciam as primeiras empresas, com destaque para a fábrica de fogões Wallig, que Miguel viu desde o corte de terreno, participando de cada etapa da construção. Trabalho árduo, difícil, porém digno e honesto. Não tardou a encontrar um bairro a se formar um pouco afastado do centro, com possibilidades até de arriscar plantar uma rocinha de milho e feijão; o lugar era de uma Dona Merquinha, que tinha uma mata gigante até onde a vista alcançava na saída para o sertão; o lugarejo que virou bairro era chamado de “Moita”. Tinha uma igrejinha em devoção a Santa Rosa e das poucas casinhas, criou-se uma Sociedade de Amigos de Bairro.


La no fim da rua grande, que viria a se chamar Rua do Sol, Miguel e seu filho construíram uma casa de taipa e poucos meses depois, estava ali toda a família reunida. E cada um passou a ajudar no sustento da casa e em esforços para sua ampliação, pois do tamanho que era, a família só conseguia estar toda dentro da residência na hora de dormir. As meninas já crescidas, levavam com dificuldade moringas de barro com água e cocada para a estação de trem no lugar Casa de Pedra, que veio a se chamar Centenário anos depois, e vendiam aos passageiros; a água era em um caneco de ágata e a cocada em um papel de embrulho. Os três filhos mais velhos foram trabalhar com o pai, o que tinha vindo primeiro desistiu e junto a mais uns três colegas de obra, pegou um pau-de-arara para tentar a vida no sul sem dar qualquer notícia, logo após o pagamento.


Maciel Pinheiro em Maio de 1970 - Gustavo Villarim (disponível no RHCG)

Naqueles anos a cidade prosperou, depois do boom algodoeiro ela procurou um lugar para si, e encontrou na atividade industrial o néctar para reinventar-se. As fábricas foram sendo construídas e boa parte da mão de obra veio de outras cidades, dos arredores, forasteiros sempre em busca de oportunidade e a cidade Rainha esbanjando sua hospitalidade, sempre a se preocupar mais com o futuro do que com seus filhos.


Depois do parque industrial funcionando, muita mão de obra continuou sendo necessária e nos anos seguintes, a cidade vai passar por uma série de modificações. Assim, migueis, marias, josés, joões, franciscos e suas famílias vieram construir essa cidade, por um motivo ou por outro, incorporando a força de um povo que além da altivez, é marcado pela esperança.


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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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