O LISTEL QUE ORNA O BRASÃO de Campina Grande traz o lema "Solum inter plurima" significando: Única entre muitas. O termo, até um tanto curioso, parece ser apropriado para as gerações que defendem uma ‘inventiva campinense’, lugar de todas as soluções para onde aflui e onde possui os melhores e mais diversos profissionais, garantia de atendimento em qualquer fabricação ou serviço. Vejamos esse relato histórico que colhi do amigo e Professor da UEPB e UFPB(CG) Raimundo Rodrigues e que reforça essa fama.
Era 25 de maio de 1981, dia especial pelo relançamento em Campina Grande do jornal GAZETA DO SERTÃO em sua, digamos, terceira geração. A primeira por Irineu Jóffily e Francisco Retumba em 1888, a segunda por Hortênsio Ribeiro em 1923 e a mais nova versão pelo inesquecível economista Edvaldo de Sousa do Ó, tido como um dos grandes realizadores desta cidade. Era o primeiro jornal impresso em offset do interior do Estado da Paraíba.
Solenidade de lançamento de edição nº1 da Gazeta do Sertão no dia 25 de maio de 1981 no Museu de Arte Assis Chateaubriand, vendo-se o Presidente da Fundação Bolsa de Mercadorias da Paraíba, Edvaldo de Sousa do Ó e o superintendente do jornal, o Jornalista Raimundo Rodrigues ao lado de sua esposa Eulália Rodrigues - R.Rodrigues
A missão de implantar este jornal foi dada ao jornalista e Professor Raimundo Cavalcante Rodrigues, a época docente da FURNE – Fundação Universidade Regional do Nordeste, e a ele coube toda a operação com o intuito de comprar e instalar a ‘Editora Campina Grande Ltda.’, que tinha a função de lançar e imprimir aquele novo periódico da cidade. Após todo equipamento adquirido, instalado e testado, em um prédio próximo à Estação Velha, foi agendado para o dia 25 de maio de 1981 o lançamento oficial daquele matutino que teria circulação diária e inclusive de maneira pioneira nas segundas feiras, já que nenhum jornal no Estado circulava neste dia.
Tudo ocorria conforme o planejado com uma execução organizada e bastante atenciosa, para o orgulho de toda a equipe envolvida. E se alguém ainda duvidava da competência e inventividade de Edvaldo do Ó, se impressionou com o eminente sucesso evidenciado pela grande festa no dia do lançamento. Mas eis que um infortúnio ocorreu: a máquina impressora em offset (em cores) Adast Dominant 714 (de fabricação Polonesa e importada pela Omnipol do Brasil Ltda.) apresentou uma pane e não mais funcionou, tendo deixado toda a equipe desesperada, tanto na redação como principalmente na oficina.
Isso foi motivo para tirar o sono do amigo Raimundo Rodrigues por alguns dias. Óbvio! Desesperado, não sabia o que fazer. O Técnico da empresa estava na oficina e diagnosticou que as palhetas do compressor de ar queimaram. Imediatamente ele ligou para a fornecedora da máquina em Recife e também no Rio Janeiro e São Paulo, e a notícia não era animadora: não havia estoque destas peças no Brasil. A única solução seria esperar vir da Polônia onde a máquina foi fabricada, dias e mais dias em um porão de navio.
Tribuno Raimundo Asfora, comerciante Álvaro Barros (Pres. CDL), Marcos Ubiratan, Sec. Finanças do Estado, Antônio Moraes (Pres. Sind. do Comércio Varejista de CG) e o comerciante Carlos Noujaim Habib sendo recebidos pelo Superintentende Raimundo Rodrigues - R. Rodrigues.
Raimundo ficou louco e resolveu procurar José Neiva da Grafset. Ele disse que não tinha como resolver aquilo na hora, mas sugeriu procurar um cidadão chamado Seu Afonso que era torneiro mecânico e morava ao lado do campo do Treze, no bairro de São José. Era um cidadão idoso com mais de oitenta anos e que sempre “quebrava o galho” da Grafset. Benedito (técnico da empresa) estava muito pessimista, dizendo que a solução só a importação, mesmo assim acompanhou Raimundo até a oficina de Seu Afonso. Era meio dia, hora do almoço. Chegando lá relataram o problema. O torneiro ouviu atentamente as palavras do técnico e com as peças em suas mãos, perguntou: “Vocês querem isso para quando?” A resposta só podia ser uma: para ontem.
Raimundo ao lado de sua esposa Eulália, o Dep. Federal Aluísio Afonso Campos, Raimundo Asfora e os jornalistas Marcos Marinho e Geovaldo Carvalho, editor e secretário da Gazeta do Sertão no jantar de aniversário do jornal - R.Rodrigues
Com aquela calma que lhe era peculiar, e com a vista bem cansada usando um óculos pesado nas lentes, ele mandou ir a loja ‘Eletrocasa – L.P.Assis Ltda.’ na rua João Pessoa, e pedir um metro de fibra de vidro, na largura que foi determinada. Ansiosos, Raimundo e Benedito foram ao lugar, fizeram o pedido e voltaram imediatamente. Com óculos pendendo no nariz, Seu Afonso mandou buscar em 4 horas: “vou tentar resolver este problema”. Enquanto isso, Raimundo e Benedito fizeram todo tipo de oração para dar certo e ficaram por lá por muito tempo depois saíram. Na volta, chegaram lá e receberam algumas palhetas. “Thomas, o técnico quase caiu de costas, pois nunca tinha visto algo parecido em mais de vinte anos de trabalho”. O teste com as peças fabricadas foi perfeito, não se sabia distinguir a cópia da original.
O Ministro João Agripino Filho, ex-Pres. do Tribunal de Contas da União sendo homenageado com um almoço pelo economista Edvaldo de Souza do Ó, no Restaurante da Bolsa de Mercadorias tendo ao seu lado os jornalistas Raimundo Rodrigues (Superintendente), William Monteiro e Helder Moura e ainda assessores Ivan Sodré e José Luiz Neto - R.Rodrigues
A Inventividade de Campina Grande deu mais uma vez a demonstração que tudo nesta cidade é possível. Já dizia o jornalista Noaldo Dantas que em Campina se fazia conserto de relógio Rolex usando luvas de boxe e fabricava revolver Smith West na Casa Caroca. Ê Campina. Enxerida, inventiva e buliçosa.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 19 de outubro de 2024.
Viva Campina Grande!