Em novembro de 2015 fomos surpreendidos por um intenso vandalismo em um importante patrimônio histórico da cidade de Campina Grande-PB que, infelizmente, tem perdido muito de sua arquitetura histórica. Marcos paisagísticos estão sendo perdidos, mutilados, destruídos e tudo isso às vistas das autoridades. Desta vez, foi alvo de depredação o prédio da chamada "Estação Ferroviária Nova" de Campina Grande. O prédio foi invadido, arrombado e vem até hoje sendo "depenado". Tudo o que pode ser rentável economicamente vem sendo retirado paulatinamente por vândalos. Recentemente foram retirados o madeiramento e telhas dos galpões anexos.
O prédio foi construído em 1957 – momento em que se comemorava o cinquentenário da chegada do trem à Campina Grande, fato que foi expressivo para seu desenvolvimento – e inaugurado em 26 de janeiro de 1961 pela Rede Ferroviária do Nordeste - RFN (depois Rede Ferroviária Federal S.A. – RFFSA). Sua construção buscava em linhas gerais a melhoria dos serviços ferroviários na região pois havia a necessidade de espaço para manobras e uma melhor estrutura para passageiros e o trato com as cargas, além, claro, de ter o intuito de ser a interligação entre a Rede Ferroviária Nacional e a Rede Viação Cearense, num projeto de nacionalização das linhas incluídas na malha da RFFSA pelo plano nacional desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubistchek.
A Estação Nova, como se tornou conhecida, possui traços arquitetônicos em art déco e também proto-moderno, em destaque no seu frontispício temos um belíssimo painel em azulejo pintado; seu formato possui alguma semelhança com o prédio do Liceu Paraibano e é o que o estudioso Walter Tavares chama de inspiração em navios à vapor. Para o Professor Josemir Camilo: “Pode-se interpretar a construção como um conjunto, com seus armazéns e um prédio administrativo, em linha reta, ao longo dos trilhos, como se a Estação fosse a locomotiva, o prédio, o tender, e os armazéns, em ambas as extremidades, seus vagões”. Seu porte de grandeza o torna um dos mais destacados patrimônios arquitetônicos e históricos da cidade.
Quanto ao saque, ao vandalismo, acreditamos que pode ter sido iniciado por vândalos, mas, em seguida, a ação provavelmente teve um caráter profissional, visto que os relógios da torre foram RETIRADOS e objetos grandes como carros de manutenção e peças de grandes dimensões foram levadas. Tudo começou entre outubro e início de novembro de 2015. A ausência dos relógios e as portas e portões arrombados podem ser vistos por quem passa cotidianamente pela avenida Professor Almeida Barreto, entre os bairros São José e Jardim Quarenta.
Na época, nos prontificamos a fazer uma denúncia ao Ministério Público Federal para que averiguasse o dano ao patrimônio, também comunicarmos a algumas instituições culturais além do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba, o IPHAEP e também o congênere nacional, o IPHAN. Ao que se sabe, o referido patrimônio é da União e sua guarda, que estava a cargo do IPHAN após o fim da RFFSA foi repassada para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT no entanto, até o momento, não temos nenhum posicionamento do Ministério Público nem de nenhuma outra autoridade. O prédio poderia muito bem ser abraçado pela municipalidade, com vistas ao transporte público, por que não? Um VLT ali interligando a cidade, desafogando o terminal de integração, seria de grande valia. Há alguns anos, propus em conjunto com o amigo memorialista José Edmilson Rodrigues que se fizesse um Museu que expressasse a memória ferroviária do interior do Nordeste.
Quase cinco anos depois da denúncia nada foi feito. Continuamos aguardando uma averiguação do caso e a pronta reparação do dano patrimonial, além da punição aos responsáveis pela destruição.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 25 de janeiro de 2020.
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