Salvador da Bahia é repleta de encantos. Dentre o patrimônio cultural existente em nossa primeira capital, o que mais me impressiona é o seu povo e a sua inventividade para marcar o passo e dizer: - Eu existo e estou aqui! Fiquei maravilhado nesse dia do folclore, última quarta-feira (22-Ago-19); tive o prazer de estar na capital dos baianos e ver (e aprender!) na imprensa um pouco desse caldeirão cultural. Diversos jornais trouxeram matérias especiais, mas o Jornal da Manhã (o Bom dia da Globo Bahia) foi o principal. Transmitido ao vivo da Lagoa do Abaeté, no bairro de Itapuã, com os pés na areia, houve um grande encontro entre a orquestra Afrosinfônica, o grupo Malê Debalê e as Ganhadeiras de Itapuã. À medida que a música e as entrevistas se desenrolavam, eu admirava a pujança cultural e o apego à história como uma forma de resistência, evocando e rememorando um passado ancestral.
As Ganhadeiras de Itapuã é um grupo de mulheres organizado há quinze anos, mas que remontam séculos de história. Foram as primeiras empreendedoras daquelas terras, seus cânticos e tudo aquilo que foi passado através de gerações pela oralidade, vem sendo trabalhado e cantado por elas. Cada poesia, cada contação, cada história foi buscada para se transformar em música. O músico Amadeu Alves é um dos grandes responsáveis pela manutenção dessa história com valorização do que existe de mais autêntico. O tempero da música das ‘ganhadeiras’ é a energia do mar aberto. O samba do recôncavo tem todo seu sotaque e sua idiossincrasia, já o Samba de roda em Itapuã ganha assim a nomenclatura de Samba de Mar Aberto, próprio e típico desse bairro com a cara de quem mora na beira da praia onde o farol de Itapuã e a Lagoa do Abaeté são referências.
No passado, as ganhadeiras saíam com seus produtos para vender em tabuleiro: “tem pra vender, quem quer comprar, tem pra ioiô, tem pra iaiá, tem amendoim tem cocada, coco verde e mungunzá, bolo de milho tem tapioca, beiju molhado para lhe dar, ganhadeiras de Itapuã...” Assim elas iniciam o samba de roda vestidas à caráter, passos curtos e uma indisfarçável malemolência que vai se expressando no molejo da cintura, dos ombros e toma conta do corpo todo; com pescoços rijos, esticando os rostos para o alto e olhar faceiro de canto de olho, dão uma imponência que ao mesmo tempo desdenha e convida para acompanharmos a dança. Toda essa energia vai ser tema central da escola de samba Unidos do Viradouro, levando o axé baiano para a Sapucaí em um trabalho baseado na história, trazendo um olhar muito importante para manter essa vocação da cultura baiana.
Já a orquestra Afrosinfônica, liderada pelo maestro Ubiratan Marques, traz um repertório próprio de música popular em que as pessoas se reconhecem. A instrumentação da orquestra compõe uma arquitetura sinfônica que representa a mistura de elementos da cultura afrobrasileira, os inconfundíveis tambores, com instrumentos de sopro. As vozes cantam o Iorubá, o Português e outros dialetos africanos no que facilita uma abstração cultural. Esse é o ponto alto da Afrosinfônica. Ao lado estava o Cortejo do Malê “esse é o povo negro, é o Malê Debalê” cantado por Karine Malebalê. O grupo representa quarenta anos de resistência, de afirmação do povo negro da cidade. Roupas coloridas e os atabaques dão o tom; na história buscaram a inspiração no movimento dos Malês, a quem reverenciam.
Na Bahia, dia do Folclore é momento de reafirmar as tradições, as manifestações, aquilo que vem a constituir a identidade do seu povo. É, de fato, muito bonito de se ver.
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