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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Descrição Geral da Capitania da Paraíba


A dança dos Tapuias, do Albert Eckhout (enciclopedia.itaucultural.org.br)

Elias Herckmans foi um dos integrantes do grupo de artistas e sábios trazidos pelo Conde Maurício de Nassau Siegem ao Brasil durante a ocupação holandesa. Ele foi geógrafo, cartógrafo além de escritor. Enquanto Diretor (era assim que os holandeses denominavam o governador) da Capitania da Paraíba de 1636 a 1639, Herckmans teve a oportunidade de conhecer grande parte da planície litorânea pertencente à Capitania e seus primeiros contrafortes, com atenção especial às várzeas dos rios, principalmente o Paraíba e seus engenhos, isso em uma grande expedição que durou aproximadamente dois meses. Todo esse conhecimento holístico sobre essas terras foi transformado no interessante documento “Descrição Geral da Capitania da Paraíba”, escrito no último ano de seu governo e só publicado em 1879 (em holandês) com o título Beschrijvinge van de Capitanie Paraiba, traduzido em língua portuguesa em 1884 por José Higino Duarte Pereira e publicado três anos depois na Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano.


Vista da Frederica, em segundo plano, no alto do morro, a partir do Rio Sanhauá*

Ele começa assim: “A Capitania da Paraíba, situada ao norte de Pernambuco, é uma das principais províncias do Brasil [...] Em águas, ares e fertilidade é esta Capitania uma das regiões mais saudáveis do Brasil”, vejam só que descrição... No relatório, Herckmans tem a preocupação de descrever o meio, o homem e os mais diversos aspectos da Capitania. Seu documento é subdividido basicamente em três secções. Na primeira, ele aborda principalmente a cidade de Frederica (atual capital João Pessoa) e seus arredores imediatos, onde descreve e caracteriza mosteiros, fortes, igrejas, acidentes geográficos e alguns prédios da cidade; é nesse momento em que ele pontua os currais de gado e descreve os principais rios e seus afluentes, abordando etimologicamente as nomenclaturas indígenas dos rios e serras, atribuindo-as à lendas e costumes dos “gentios”, cujas denominações temos até o presente, como podemos citar: Mamanguape, Copaóba, Tibiri, Miriri, Gramame dentre outras.


Na segunda secção do texto, Herckmans aborda a ‘fertilidade da capitania’, descrevendo todo o potencial ambiental, principalmente o recurso florístico. Seu clima, suas águas, seus canaviais e todas as culturas agrícolas existentes são abordadas, fazendo analogias pertinentes como ao afirmar que a farinha de mandioca era o pão dos nativos. Os frutos da Capitania são assemelhados aos melhores do mundo como o figo de Portugal e a fava holandesa; o damasco é comparado a nossa mangaba que para ele é completamente semelhante e ainda diz: “Interiormente tem alguns caroços, como a nêspera, mas em maior número. É uma das frutas mais agradáveis do Brasil”. O caju, “além de ser mui próprio para matar-se a sede, tem na extremidade uma castanha que contém um certo óleo entre as duas cascas superiores; esse óleo é tão picante e penetrante que, caindo no beiço de alguém, caustica e abre um buraco imediatamente; contudo é próprio para arder em lâmpada. A dita castanha, sendo assada, é excelente para se comerem lugar de pão; é mui mais gostosa do que as amêndoas”.


Capas da primeira publicação em português (Rev. do IAHGP) e 2ª edição publicada pela Editora A União em 1982

Na terceira e última porção do texto, ele enfatiza uma breve descrição a cerca da vida e dos costumes dos Tapuias (indígenas do interior) admitindo a existência de outras nações além dos Tupi (Potiguara e Tabajara); nesta parte, ele localiza e descreve atentamente diversos aspectos dos índios Tarairyou (Tarairiús). Estes são descritos minuciosamente, desde os aspectos físicos até os instrumentos de caça e guerra.


Herckmans tem o cuidado de detalhar tudo que está vendo de maneira atenta e minuciosa, clara e objetiva, com um poder de descrição e noção de território incríveis, talvez este documento tenha sido produzido como um relatório para que a Companhia da Índias Ocidentais pudesse apreciar pormenorizadamente, proporcionando o conhecimento de tudo que há nesta terra para assim poder explorar integralmente da melhor maneira.


Este documento é de muita importância para se entender não só o processo de colonização bem como todo o contexto em que esteve inserida a Capitania da Paraíba, além de compreender como fora o período de domínio holandês em território brasileiro.






* Imagem extraída de: A paisagem cultural da Capitania da Parahyba, Brasil, na ótica da iconografia do período colonial. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural [en linea]. 2017, 15(1), 139-162[fecha de Consulta 28 de Abril de 2020]. ISSN: 1695-7121. Disponible en: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=88149387009

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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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