Na antiga Fazenda Boi Só, no coração da capital paraibana, houve um encontro simbólico com a Fazenda Cauaçú lá dos Cariris Velhos, da Serra Branca de outrora, aquela mesma criada pelo alferes Amaro da Costa Romeu Filho no início do século XIX. Essa emblemática reunião sentimental foi proporcionada pelo lançamento do livro ‘Reminiscências’ (Ideia, 341p.) do querido amigo Berilo Ramos Borba. Nele, suas recordações mais preciosas foram unidas em uma explanação instigante com uma riqueza de detalhes que a impressão que nos dá é que a obra foi sendo escrita por toda sua vida e só agora publicada. São muitas cores e cheiros que tornam a narrativa biográfica não só interessante como de uma leitura prazerosa, ficando no fim o gosto de “quero mais”, e olhe que não é comum de um só fôlego ler quase quatrocentas páginas.
Sabia que o lançamento seria uma festa, uma celebração à história e trajetória do nosso amigo Berilo e, junto com outro amigo serrabranquense, o Prof. José Pequeno (Zezito), desci o Planalto da Borborema no cair da tarde da última sexta-feira (1-XI-19) para celebrar com amigos e familiares esse momento histórico.
Na ida, Prof. Zezito e eu tratamos de fazer nossas reminiscências com relação a Berilo. Lembrei quando o conheci há pouco mais de dez anos em uma prazerosa conversa sobre as coisas do Cariri, isso lá em Serra Branca mesmo, oportunidade em que também conheci sua Dora, grande intelectual que no momento lançara seu ‘Saberes e fazeres do povo’, um diagnóstico fiel do patrimônio cultural do povo paraibano. Zezito me lembrava quando eu os apresentei em Campina Grande em 2014, momento onde a centelha ufana dos Cariris Velhos transformou ideias em atos concretos e desse encontro criamos juntos o Instituto Histórico e Geográfico de Serra Branca, a Casa Dias Borba.
No início da noite chegamos ao Alphaville, condomínio construído em 2008 em terras da antiga Fazenda Boi Só que, ao contrário da ideia de um solitário animal, vem da interpretação errônea de um antigo proprietário, o francês Boisôt. Na propriedade, desde 1980 que a casa sede e a capela foram tombadas pelo IPHAEP através do Decreto nº 8.656 devido a sua importância dentro do contexto urbanístico e histórico da capital. Estacionamos o carro por trás da capela e caminhamos até a casa sede, muito bem preservada. Entrar naquela construção, pisar naquele mosaico, observar seus arcos, bandeiras de porta, é como ser transportado a um passado longínquo, mágica proporcionada pela importante preservação. O jardim harmoniza o conjunto, toques naturais e singelos. Por ali caminhamos até o salão de festas e fomos recebidos pelo casal Berilo e Dora Borba, ambos disseram: “Que bom, o Cariri chegou!”.
Em alguns minutos teve início a cerimônia, e pela primeira vez eu vi uma mesa de autoridades se espalhar pelo público presente, não possuindo mais espaços na mesa, as duas primeiras filas de espectadores foi ocupada por diversas outras autoridades que ali estavam (dos poderes constituídos à instituições culturais), onde me juntei por ser convidado a representar o Instituto Histórico e Geográfico do Cariri. Prof. Zezito (à mesa) representou o IHGSB. Com isso não quero dizer que o lançamento teve um caráter elitizado, e sim demonstrar com esse prestígio o quanto Berilo é querido e como sua trajetória foi marcante na vida de muitos caririzeiros e paraibanos, desde sua fazenda Cauaçú até o reitorado numa UFPB que ia de João Pessoa à Cajazeiras; dos tempos de seminário aos tempos de secretário de estado. Prestígio de uma vida honrada, de uma conduta ilibada, de uma pureza de caráter admirável e de uma atenção a todos, sobretudo aos amigos que a vida lhe presenteou.
No fim, voltamos a casa sede para um coquetel, momento animadíssimo ao som da Marinês, cantora amiga da família que na música levanta a bandeira do forró pé-de-serra, do xaxado e do baião (tinha mesmo que ser Marinês!). Como deveria ser, o forró tomou conta da Fazenda, reminiscências das enluaradas noites de São João, tão vivas e genuínas no Mundo-Sertão. Cauaçú beijando Boi Só, num elo sentimental e afetivo emocionante.
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