NA ÚLTIMA SEMANA, navegando nos portais de notícias, uma matéria me chamou a atenção e despertou boas memórias, me refiro a volta das bandeiras com mastro nos estádios do estado de São Paulo e a comemoração das torcidas dos principais times, afinal a festa está de volta às arquibancadas depois de vinte e seis anos e a proibição foi um ato em decorrência de uma batalha campal entre torcedores de São Paulo e Palmeiras na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 1996 com a morte de um torcedor agredido violentamente à pauladas. Aqui na Paraíba se proíbe algumas coisas dependendo do comandante da polícia militar, lembro que guarda-chuva e até cachecol ou bandeirinha já se proibiu em alguns jogos, mas isso não é a regra.
A volta das bandeiras lá me fez lembrar da emoção que tive a primeira vez que fui a um estádio de futebol, aquele tremular de um grande tecido quadriculado alvinegro em um mastro de bambu me encantou, era uma das coisas mais esperadas por mim enquanto criança e quanto mais tivesse, mais bonita a torcida ficava, orgulhando e instigando a paixão de seus torcedores e torcedoras.
A bandeira nada mais é que a representação visual de uma instituição, agremiação, país, cidade... e claro: times de futebol. Um momento que jamais vou esquecer é de um clássico dos maiorais (Treze x Campinense) acredito que em 1990 ou 91, eu bem pequeno cheguei com meu pai ao estádio ‘O Amigão’, seus arredores apinhados de gente, nós de preto e branco e os raposeiros de “encarnado e preto”, muita gente descendo de cima de caçambas, carroceria de caminhões e camionetas, ônibus com gente escapando pelas janelas, cada um indo para seu lado na arquibancada em uma frenética e agitada ordem. Lembro da data, foi em um sete de setembro, isso porque o clássico se realizou justamente no aniversário de fundação do Treze. Como chegamos quase na hora dos times entrarem em campo, encontramos certa dificuldade de andar em meio àquela multidão e torcida é torcida em qualquer lugar, cada uma que quer ser a mais bonita, a mais enfeitada, muito papel picado, fogos, fumaça e, claro, as bandeiras.
De mãos dadas, transpassamos os últimos degraus na hora em que o time começa a entrar em campo, muita gente no túnel por onde um a um os jogadores apareciam com crianças nos braços, muitos foguetões sendo estourados, rolos de papéis higiênicos brancos cruzavam o céu aos montes, misturando-se ao papel picado e as bexigas de aniversário pretas e brancas que subiam. A torcida pulava como se fosse um gol até que a charanga da Tocha Alvinegra (a mais presente na época) começou a tocar, todos batiam palmas e começaram a cantar o “Parabéns pra você”, aquela cena foi uma das mais lindas que vi; o som de um instrumento de sopro dava o tom: “tan tan tammm, tam tantãmm” eu parecia estar em um mundo encantado até que vejo a preocupação de Papai, é que em uma das entradas estavam umas vinte bandeiras em pé, enroladas. Ele me disse: “tem que espalhar essas bandeiras pra ficar mais bonito!” e em um ato contínuo, sai pegando algumas, desfraldando e entregando ao primeiro que aparecesse, até que todas estivessem tremulando compondo aquela paisagem festiva. Logo quando li a matéria com uma foto da torcida do Corinthians, que também é alvinegro, me lembrei desse momento marcante.
O gosto pelas bandeiras me acompanhou por muitos anos, lembro de, já maior, podendo suportar o peso causado pelo vento, balancei bandeiras muitas vezes, até que um dia compramos tecidos para Mamãe os costurar. Pronta, a bandeira era dividida em três partes verticais iguais com a extremidade em preto e o centro branco, e ela nos acompanhou por muito tempo. Em uma ida a cidade de Solânea-PB para um jogo contra o Vila Branca, havíamos colocado ela no teto de um Monza que Papai tinha e o tremular da viagem a descosturou em um bom pedaço. Na entrada da cidade, uma simpática costureira, Dona Socorro, nos socorreu e ainda disse que seu esposo torcia para o Galo, nosso mascote.
A última vez que vi aquela querida bandeira foi em um jogo histórico, a final do paraibano em 2000 em que a torcida trezeana invadiu João Pessoa. O último título do Treze tinha sido em 1989 e o incômodo jejum chegou ao fim naquela tarde de domingo com um gol de Rincón atravessando todo o campo e chutando no canto. Na arquibancada, eu havia amarrado a bandeira com meu amigo Joel. Depois da comemoração do título e da festa que estava só começando, olhamos para o alambrado e a bandeira não mais estava. Papai me abraçou, sorriu e disse: “Fica a bandeira e levamos a taça!”.
Veja no quadro 'Memória esportiva' do Blog Retalhos Históricos de Campina Grande (RHCG) detalhes da final e do campeonato no link
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 6 de agosto de 2022.
Gostei do texto amigo! Parabéns
Olá professor Bruno!
Sou raposeiro, mas admiro e respeito o time do treze; afinal, um não vive sem o outro, essa é a verdade!
Boas lembranças!