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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Balduíno Honoris Causa


Balduíno em sua oficina na ULT

Na antiga Vila de Batalhão, um cavaleiro andante iniciou uma viagem sem volta. Ancorado em seus oitenta e oito anos intensamente vividos, foi um baluarte da cultura, um semeador das coisas e das criaturas, uma genial mente pulsante que transcendia o mundo natural e o tempo. Um construtor de sonhos, um visionário dos saberes, dos fazeres. Um topógrafo das artes que sabia reconhecer e valorizar a riqueza das coisas mais simples na cartografia de nossos traços culturais, transformando-os em pedra de toque na criação de casas de memória, verdadeiros palcos sublimes eternizando nossas raízes.


Estou falando do querido amigo Balduíno Lélis de Farias, que se encantou na última segunda-feira (21/12) em Taperoá. A onça caetana de Ariano Suassuna o libertou do sofrimento que vinha passando e, aos cuidados de seus familiares, partiu de casa, do seu reinado encantado e enigmático.


Em vida foi um visionário em tudo que fez, ganhou o codinome de ‘Senhor dos Museus’ por Machado Bitencourt por ter criado uma série de casas de memória do litoral ao sertão, com grande destaque para o Museu Zoobotânico Arruda Câmara, na capital João Pessoa e sua homérica busca de uma onça lá no Maranhão, que veio consigo no carro. Sua genialidade esteve impressa em inúmeros projetos de pesquisa que desenvolveu e na arqueologia encontrou no velho León Clerot uma companhia e um mestre, desenvolveu pesquisas relevantes e bancou inclusive a vinda de uma equipe do Museu Nacional para uma escavação na Paraíba em uma época totalmente distinta em que os estudos em arqueologia eram muito incipientes. Essa é uma prova cabal de seu desprendimento e crença na ciência como mola propulsora de desenvolvimento.


Parte do painel principal da enigmática Pedra do Ingá

Agora, para mim, a página mais bela de sua vida é a criação da Universidade Leiga do Trabalho, a ULT, em 1987. Um verdadeiro centro de educação e cultura onde são extremamente valorizados os ofícios tradicionais em um processo de construção coletiva do saber possibilitando que os habitantes de todo o Mundo-Sertão pudessem viver com dignidade em sua terra sem ser preciso seguir a famosa diáspora para o sul do país. Ali estive muitas vezes e vi seus olhos brilharem sempre que mostrava a estrutura, as novidades, seus sonhos e seu gosto pelos Cariris Velhos, entremeado de conhecimento, história, misticismo e cumplicidade com a rusticidade da caatinga brava, com os caminhos antigos de vaqueiros e com a aura dantesca dos sertões.


Conheci Balduíno em 2005. Um de meus primeiros passos na faculdade foi me dedicar a paixão pela arqueologia e isso fez me aproximar desse intelectual tão reconhecido e tão incompreendido de nossa Paraíba. Foi um dia todo juntos e na oportunidade ele me presenteou com um seixo rolado com a letra T gravada à cinzel: "T de Taperoá, T de Thomas. Tome, essa pedra é sua!". Esse foi o presente que Balduíno me deu na primeira das muitas visitas que fiz. Homem sábio, amigo, extremamente simples e terno, uma baraúna de nosso Cariri. Ele partiu e será mais uma estrela a brilhar no Mundo-Sertão, fazendo companhia a Manelito, Pedro Nunes, Ariano Suassuna e muitos caririzeiros amigos da maior estirpe.

"T de Taperoá, T de Thomas" pedra gravada por Balduíno

No último sábado, ao ver no feicibuque um retrato de Beatriz, sua filha, conversei longamente com o amigo Marco di Aurélio sobre a situação de nosso amigo. Há tempos que tentamos (ele junto a UFPB, eu junto a UEPB) conseguir um título de Dr. Honoris Causa para ele, uma homenagem importante, um reconhecimento que a Paraíba deve a ele por tudo que fez e, infelizmente, a burocracia não nos favoreceu. Foi quando botei na mente que minha próxima crônica semanal no jornal A União seria "Balduíno Honoris Causa", uma homenagem ao velho e querido amigo. Nem imaginava que ao chegar na segunda ele se encantaria, e bem ao seu modo: uma data palíndroma 21/12, e idade também palíndroma aos 88 anos e ainda mais no solstício de verão, no exato dia do alinhamento de Júpiter com Saturno, ocorrido antes no longínquo ano de 1623. Lembrei dos múltiplos de 3 que ele sempre me afirmou onde estão escondidos os segredos da Pedra do Ingá e estou certo que vai demorar muito para termos uma pessoa tão ativa, visionária, genial e a frente do seu tempo como Balduíno Lélis. O ano que parte, 2020, é bastante emblemático, não tivemos a chance de velá-lo como merecia; ano que nos levou tanta gente, da Carnaúba partiu Manelino, em novembro foi a vez de Luiz Galdino, outro intelectual amante da arqueologia e da Pedra do Ingá. Ano difícil de engolir.


Balduíno Lélis ao lado de um retrato mais moço

Tudo fica menor, os Cariris Velhos perdem um defensor, a Paraíba perde um mentor cultural e espiritual, perdemos todos, ficamos órfãos de um pensamento genuíno e atitudes contra os inimigos da natureza e da cultura, um Dom Quixote dos sertões, um baluarte de nossa terra. Seu legado e exemplo são estandartes, saibamos valorizar.

Os Cariri, nação indígena que tanto estudou, acreditava sempre que na partida de alguém tão especial nasceria uma estrela. Balduíno é essa estrela, de Belém, que em meio ao alinhamento de planetas e a um mundo que não lhe deu o devido valor, brilhará para sempre no céu do Mundo-Sertão.


Veja a seguir um trecho de uma entrevista do grande Balduíno em sua Taperoá


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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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