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TURISMO & HISTÓRIA

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Amor por Campina

Foto do escritor: Thomas Bruno OliveiraThomas Bruno Oliveira

A Feira Central de Campina Grande-PB - TB
A Feira Central de Campina Grande-PB - TB

EU SOU DE UMA CAMPINA das pessoas comuns, que estão nas esquinas, nos botequins, que frequentam a feira da Prata, que andam pelas ruas. É uma Campina encruzilhada por caminhos e experiências diversas, é uma cidade que recebe e é passagem de tantas e tantas pessoas que vem de seus municípios vizinhos para trabalhar e também beber o que ela pode (e não pode) ofertar, quer seja observando, comprando ou vendendo produtos, cidade moderna e anti-moderna, que abraça e é abraçada. Cidade dos caminhos e descaminhos, onde (como disse Gilberto Gil) tudo vale e nada vale, tudo é importante e nada é importante. A feira valia a pena e tinha semana que não valia, assim como é o comércio, assim como é a vida. É esperar a próxima semana e apostar tudo naquele momento.


Campina a partir do oeste - TB
Campina a partir do oeste - TB

Eu amo essa cidade, mas não é um amor tolo, inocente, ingênuo. Quer dizer, ingênuo pode até ser, isso por um sentimento incontrolável, que não é um amor falso, nem bandido. É típico de uma atitude celebratória no Calçadão, no Sebo, na praça, em alguns becos que subsistem, mas também na crítica aos tecnicistas, aos insensíveis, à dureza de muitas coisas.


Acho mui bela suas ruas centrais, vestidas com as cores do art déco, também gostava de como era antes, construções antigas com o cheiro do passado colonial, a imponência do apego à beleza, dos detalhes arquitetônicos que davam ares bucólicos. Admiro os trabalhadores de ontem, formados por escravos libertos, a população pobre das choupanas que se arranchavam em alguns charcos desocupados dos açudes Velho e Novo e os novos que fazem de tudo para sobreviver.


Rua Marquês do Herval, antiga Rua dos Armazéns e Praça do Algodão - TB
Rua Marquês do Herval, antiga Rua dos Armazéns e Praça do Algodão - TB

Cidade de beleza, mas que tem suas manchas. Ela teve sua riqueza forjada em mãos escravas, sua elite esteve contra alguns movimentos populares e revolucionários, aliás, nem vou comentar seu posicionamento político, porém, o embate é válido. Seus grupos políticos foram e são protagonistas no estado e, nesse ano da graça de 2025, tem em sua Câmara Municipal uma mulher, negra, periférica, que foi a mais votada.


Em sua história passou de aldeia a vila, emancipou-se e não parou de crescer. Ponta de trilho, a feira e o comércio. Alçou destaque sendo o centro econômico mais importante da Parahyba, 14a maior cidade brasileira na década de 1950; que teve sua população, no início da década de 1960, quase o dobro da capital, 200 mil e 120 mil respectivamente.


Praça da Bandeira em Out/15, ainda com o piso em pedra portuguesa - TB
Praça da Bandeira em Out/15, ainda com o piso em pedra portuguesa - TB

A cidade se reinventa o tempo todo em busca de um futuro desconhecido, para isso comete o pecado de demolir a importante joia que tem no pescoço, o patrimônio histórico. Pecado mortal, ato que vai exatamente de encontro ao festejo de um passado glorioso do qual se vangloria, mas parece mais que deseja apagar e manter apenas em livros e fotografias. O que resta do primeiro parque industrial da cidade às margens do Açude Velho? Demoliram o prédio onde estava a cachaça Caranguejo, a chaminé virou pó e qual delas ficou preservada? Apenas a que está no interior do Parque da Criança (e a da antiga SANBRA, não sei até quando). Prédios e mais prédios vão dando espaço a verdadeiros espigões, construções que buscam o alto, não o céu.


Torço para o Treze — o mais querido — em certas ocasiões torço para o Campinense e ambos protagonizam o Clássico dos Maiorais, principal embate da PB. Campina, seu futebol me ensinou a celebrar vitórias e me deu muitas lições com as derrotas. Quer seja no estádio Presidente Vargas ou no colosso da Borborema, o Amigão. Campina, vibro com seu sempre forte futebol de pelada, dos inúmeros times que animam os bairros, de históricas equipes que muito bem poderiam ser profissionais. Não vejo isso por aí.


Rua Maciel Pinheiro - TB
Rua Maciel Pinheiro - TB

Eu amo essa cidade, sua religiosidade, suas igrejas, ritos, seus terreiros e pais de santo como o inesquecível pai Vicente Mariano, na histórica e popular Rua do Fogo. Mas, Campina, você é ingrata com parte de seus filhos! Agora me digam qual a cidade no Brasil que não ignora muitos de seus habitantes? Seu carnaval sempre pulsa, apesar de dificuldades várias. Das periferias, os bois surgem como formigas, passistas brincam e bebem em uma apoteose como se estivessem na Sapucaí. Minha pirâmide de Gizé é a do Parque do Povo, onde danço o maior São João no “xerém”, mas não gosto dos seus muros que mais apartam do que atraem.


Campina Grande, és maravilhosa porque és do jeito que é, com sua idiossincrasia, seus defeitos e qualidades, sua mania de grandeza, mas, sobretudo, por seu povo aguerrido e criativo.


Leia, curta, comente e compartilhe com quem você mais gosta!


Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 18 de janeiro de 2025.

1 Comment


Roniere Leite Soares
Roniere Leite Soares
Mar 17

Boa tarde, Thomas. Seus textos causaram um efeito em mim que é intrínseco. Todas as vezes que passo ali perto do ferro de engomar, onde se faz o frevo carnavalesco, lembro-me instantaneamente de você. Isso ocorre também quando transito nas Buninas. Acredito que isso acontece devido ao fato de eu ter memorizado/experimentado o efeito saudoso em algum de seus numerosos textos. O efeito tem sido permanente dessa sensação bucólica.Te vejo na arquitetura dos prédios antigos e nos costumes cotidianos dos moradores e trabalhadores do Centro.Parabéns por essa facilidade de nos prender ao texto e por essa capacidade de congelar em nós leitores essa lembrança perpétua. Abço, amigo.

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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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