SERRA REDONDA é um município próximo a Campina Grande-PB e, junto a Massaranduba, possui uma aura verdejante, altiva, com um pé no sentimento brejeiro e a alma fincada no agreste da Borborema. Em outrora, pertencia ao Ingá do Bacamarte, Vila do Imperador, Ingá. Não importa a denominação oficial, os viventes é quem aderem ou não a tais nomes. Ingá é hoje conhecida pelo seu maior patrimônio histórico e arqueológico que é o sítio rupestre mundialmente conhecido como a Pedra do Ingá. De seu passado repleto de histórias sobre o algodão, etc, pouco se ficou, mas a Pedra está ali como um bastião da cultura local, motivo dos portais e outros monumentos municipais, inclusive o brasão contém um de seus desenhos pretéritos.
Mas o motivo dessa crônica é a visita que fizemos a este antigo distrito ingaense, a majestosa Serra Redonda, povoado singular onde sua população – do alto da Serra da Borborema – vive sua vida de maneira tranquila, respeitando as festas do ano e se embrenhando em seus patrimônios que compõem sua identidade. Um deles é a feira semanal, altamente movimentada e seu ar de grandeza toma parte das ruas principais, tendo a Matriz de São Pedro como moldura de tanto comércio. Dá gosto de se ver. Compus uma equipe de pesquisadores formada por Daniel Duarte, Julierme do Nascimento, Grijalva Maracajá e o historiador e professor municipal Dário Machado Marques. Por volta das oito da manhã, nosso primeiro movimento foi visitar o Mercado Público. Adentrar àquele prédio histórico, nos restou respirar o cheiro forte da carne verde, o sangue que era jorrado daqueles animais mortos minutos atrás era de um aroma forte, intenso; as carnes pareciam estar meio vivas. No barzinho organizado pelo senhor Jackson, ele nos convidou a visitar seu espaço interno do bar/restaurante/mercearia onde se servia picado, porco guisado, galinha de capoeira e tudo mais. Essas iguarias poderiam ser servidas com farinha de mandioca, pão, cuscuz, arroz, etc.
Mui sinceramente, o que eu não vi em nenhum lugar foi cara feia. Daniel entrava nos armazéns em busca de raridades e, agora, peças de bicicleta. Grijalva percorrendo outros armazéns, seu objetivo era totalmente voltado aos apetrechos para montaria. Acreditam que ele quer ir ao Juazeiro do “Padinho Ciço” a cavalo? Isso com toda coragem que lhe é peculiar. Julierme ali encantado com a feira; eu comovido com aquela energia pulsante dos populares: uma senhora com sacola de verduras gritando “olha o sangue” para que se abrisse passagem, um cidadão com uma cabeça de porco para o deleite do fim de semana, outra senhora dando trabalho ao escolher o melhor corte de carne de sol. Alguns trabalhadores bigodudos, de boné ou chapéu de couro, brindando goles da cachaça brejeira de Alagoa Nova. O dono de uma farmácia antiga com um palito frouxo no canto da boca, parece ter tomado um bom café há pouco. Um cidadão com alguns sacos em sua mula sorri, parece levar a feira sagrada para casa em algum sítio próximo.
Numa esquina, encontramos o Prefeito Francisco Bernardo dos Santos, o “Chicão Bernardo” que pretende nos receber em reunião. Seguindo, observamos uma barbearia antiga com cadeira em madeira e utensílios que nos levam ao passado, principalmente homens que ali se barbearam ao longo dos anos. Alguns metros à frente, Dona Dorotéia recebia vários frequentadores em seu bar. Por detrás do balcão em formato de ‘L’, com a marra da personagem ‘Dona Jura’ (de alguma novela) nos recebe e conversa.
Próximo destino foi a residência da simpática e religiosa Terezinha Figueiredo. Sua casa além de ser um passeio ao passado no que consta a mobília, organização, perfume e as fotografias que testemunham uma família que transitou o meio político parahybano e uma de suas irmãs teve correspondências trocadas com escritores como Carlos Drummond de Andrade. Dos fundos de sua casa, um panorama maravilhoso se abre para quem estar lavando roupa, um entranhado de serras a perder de vista, talvez até passando do Ingá. Ao centro, a Serra da Mangueira, arredondada (possível origem do nome Serra Redonda), como viram por volta de 1780 (segundo o IBGE) os irmãos portugueses Pedro de Azevedo Cruz e Alexandre José Gomes da Cruz, vindos do Recife-PE até a vila do Ingá, quando ainda pertencia ao município de Pilar.
Por último, visitamos no cemitério municipal o túmulo da família velho onde estão sepultadas Cindá, Dida e Nita, vítimas de cangaceiros do bando de Zé Luís em 1942 no sítio Gameleira. O campo santo é repleto de histórias e possui um conjunto de túmulos diferenciado.
Após um almoço com o melhor da comida regional, já na saída para Campina, aquela áurea de zona rural brindou nossa presença, desde umas galinhas no terreiro do restaurante a frente amarela de uma casa no meio do mato. Ali lembramos a canção Casa Amarela do poeta Antônio Jocélio e seguimos viagem já despertados pela saudade.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 17 de fevereiro de 2023.